Estou lendo "Sepultando meus Mortos" de Humberto de Campos. É uma coletânea de crônicas que versam sobre a vida e o falecimento de algumas pessoas importantes com que Campos conviveu. Eu não tenho nada a dizer sobre a vida ou a morte de uma pessoa importante justamente porque não conheço pessoas importantes. E também não conheço pessoalmente ninguém que conheça pessoas importantes. Aliás, chego a duvidar fortemente de que ainda existam em nosso país pessoas importantes. Carentes que estamos de tudo hoje, também penso que nos faltam muito os intelectuais. Já não os temos. E prova disso é que consideram como intelectuais pessoas como Arnaldo Jabor, Caetano Veloso e Jô Soares.
Mas se por um lado pode-se dizer que já não há pessoas importantes, também podemos dizer que na verdade todas as pessoas são importantes. Todos, por mais insignificantes e recolhidos que pareçam, tem uma importância extraordinária. Não há nada mais fascinante que o ser humano. Cada anônimo que cruza nosso caminho é por si só um universo de histórias.
O ser humano pertence à natureza mas a transcende na medida em que alcançou o livre arbítrio. Na natureza, por mais caótica que possa parecer, existe uma ordem subjacente que a regula. Sempre no melhor caminho, sem desperdício, com a maior economia e lógica possível. Já o ser humano nem sempre segue um roteiro bem trabalhado. Ele extrapola, desperdiça, gasta, erra, torna a errar e choca na exata proporção com que consegue desviar-se. Mas é justamente quando parece perdido que manifesta o Creador dentro de si, expressando que há algo mais interno lhe sensibilizando e que sempre é tempo de transformação. As leis que regulam a natureza são naturais. As que regulam os seres humanos são morais. Por isso que é tão belo cada história de vida, pois é a partir de cada uma que se revela um traço diferenciado da inteligência da Creação. É comovente ver alguém vivendo 20 anos nas drogas querer mudar, mesmo que torne a se perder. Ou ver alguém há anos deprimido de repente ter forças para recomeçar. Ou ainda, ver alguém há muito tempo estagnado voltar a estudar ou coisa parecida. Não há nada mais importante - ou não deveria haver - para o Espiritismo do que o espírito encarnado.
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