quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Espiritismo e Democracia

O Espiritismo defende alguns princípios transculturais que promovam em amplo sentido defesa, valorização e dignificação da vida. Decorrentes destes emergem alguns valores que devem ser protegidos para que os indivíduos no conjunto das convivências mútuas possam exprimir sua singularidade compondo seus comportamentos e hábitos harmonicamente no contexto em que transitam. Liberdade, responsabilidade e direito integral à vida são algumas das exigências mínimas a serem contempladas para que seja satisfeita uma dinâmica móvel e equilibrada de inter-relacionamento. Estas são melhores expressas em governos democráticos, onde as trocas entre o poder dirigente e as exigências e anseios da população são realizadas de tal modo que haja construção de espaços diversificados e pluralistas com uma base comum de sustentabilidade para a reciprocidade social. Por este motivo o Espiritismo posiciona-se fortemente em favor da democracia como a melhor forma de governo, sendo a que permite um exercício mais pleno da existência singular de cada indivíduo no meio em que está inserido.
O filósofo austríaco Karl Popper também era forte defensor da democracia, colocando que a pergunta essencial em filosofia política, contrária ao questionamento de Platão sobre quem deveria governar, seria qual a melhor forma de governo de modo a evitar que mesmo governantes incompetentes e corruptos causassem os menores danos possíveis? Neste caso a democracia, através de suas instituições, deveria controlar e domesticar o poder público, promovendo o diálogo necessário para a promoção construtiva do espaço público. Sob este aspecto é gritante e perceptível que não se vive no Brasil uma democracia. No máximo uma democracia governada, nunca governante.
É fácil e cômodo atribuir os problemas do país aos ocupantes dos cargos políticos, mas de acordo com o critério de Popper a efetivação de um Estado democrático é responsabilidade de todos os cidadãos, sendo participativos e exigentes quantos aos seus direitos e, principalmente, cumprindo com seus deveres. Manifestar-se criticamente contra medidas antidemocráticas e comprometedoras é papel primordial da população, exercendo esta função dentro dos trâmites legais, sem desvirtuamento de caráter e sem proporcionar massas de manobra para aproveitadores. Os Estados Unidos sabiam isto desde a fundação de sua república, motivo pelo qual Tocqueville, que lá estudou a democracia, atribuiu uma importância fundamental à liberdade de imprensa em território norte-americano, onde opiniões alternativas poderiam ser consideradas e ouvidas garantindo uma diversidade de expectativas e respostas democráticas a elas, bem como poderia haver um controle dos excessos do poder público. Atualmente, mesmo em países como o Brasil, a possibilidade de uma reivindicação ou reclamação está ao alcance de um e-mail. É triste que um país que possua tantos espíritas manifestos tenha uma consciência e cultura política tão fraca e descompromissada. Talvez isto seja reflexo da mentalidade religiosa ocidental, onde se preocupa demasiadamente com questões metafísicas abstratas infelizmente desvinculadas da área primordial de ação para o espírito encarnado: o contexto concreto.

2 comentários:

Ivomar Costa disse...

Guilherme, teus textos demonstram que eu estava certo em manter acessa a chama da esperança; felizmente ainda há vida inteligente no movimento espírita!
Parábens, teus textos são claros e leves e, sobretudo, coerentes.

Alexandra Pericão disse...

Que lúcido este texto! Aliás, todos de teu blog.
Não há hipótese de vir a atualiza-lo?
Com um abraço!