Quando nos primórdios da humanidade o ser humano foi concebendo um mundo independente do seu, separando uma unidade interior e outra exterior, constituindo sua psique e fazendo autopercepção, passou a atribuir aos fenômenos externos certas divindades. Este exercício tinha como função ordenar o mundo e conferir certo sentido a ele. Esta atividade era a gênese do pensamento religioso, que conferiu aos indivíduos noções de causalidade, tempo e espaço, desnaturalizando alguns dos imperativos categóricos kantianos. O pensamento religioso não é uma etapa no desenvolvimento da humanidade que é peculiar ao “selvagem” e sobreposta pela ciência. É a forma de pensamento que reunindo as causalidades que o cercam e refletindo a condição humana, busca conferir algum sentido para a existência, combinando os “rumos” do Cosmos com os propósitos de cada vivência particular. Por isso, por mais refinadas que sejam as concepções de causalidade, o pensamento religioso nunca irá desaparecer, uma vez que é sempre a busca de um propósito para a vida no contexto em que esta se insere, nunca cessando de questionar quem é o homem.
Visto por este prisma é fácil perceber que a igreja surgiu muito tempo depois, centralizando sua estrutura em torno de um núcleo de interpretação que é transmitido por uma série de estratégias aos seus membros participantes. Todas as críticas que intelectuais de diversas áreas dirigem hoje para a religião deveriam ser transferidas para o fenômeno das igrejas, pois são elas que limitam o livre pensar,além de criar e impor comportamentos discrepantes com a realidade. A religião é forma de pensamento que independente de igreja qualquer continuará a existir.
O Espiritismo não se constitui em igreja, mas sustenta-se na ciência, filosofia e religião. Uma das originalidades da codificação espírita empreendida por Kardec foi ter demonstrado que as relações entre os polissistemas material e espiritual são passíveis da análise crítica e da elaboração de leis, fato que proporcionou a justificativa de uma fé racional. Por isso a ciência e a filosofia têm um papel muito importante, fornecendo ao espírita uma concepção mais adequada do mundo e da vida, sustentando para que o pensamento religioso possa melhor adaptar a existência singular de cada um em harmonia com o conjunto cósmico.
Apesar de tudo é fácil compreender porque muitos ainda enxergam o Espiritismo de uma forma desvirtuada e em semelhança com igrejas. Grande parte desta culpa é dos próprios espíritas, que com mentalidade de igrejas diversas e pensamento retrógrado e engessado, fizeram do centro espírita uma igreja. Basta ver a imposição de interpretações que alguns promovem ou os ritos de casamento que outros começam a popularizar. Contra isso, é necessário afirmar o centro espírita como um espaço diferenciado que proporcione ao seu freqüentador referências de ciência, filosofia e religião alcançadas pela humanidade, cuja principal tarefa é ensinar cada um a pensar. Tudo que é ensinado tem de ser justificado, inclusive os princípios espíritas alcançados por Kardec pelo método científico. Isso sendo feito, cada um estaria livre e capaz de contextualizar esses ensinamentos na sua vida, sendo que aí, o número de religiões desejável seria o número de pessoas que existissem.
terça-feira, 18 de dezembro de 2007
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Um comentário:
continue assim Pina!
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