quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Rotina e Inovação

O objetivo do espírito encarnado é conviver com culturas, pessoas e locais diferenciados de forma a poder construir conhecimentos e revelar a si mesmo, manifestando e/ou aprofundando questões não realizadas em encarnações pretéritas. Portanto, a função da reencarnação é fundamentalmente proporcionar conhecimento de si, dos outros e do mundo. Deste modo, o ideal seria que cada indivíduo aproveitasse ao máximo os momentos novos, a diversidade e as experiências vividas para agregar saberes e transformar comportamentos. Cada vez que penso neste fato não deixo de me lembrar do livro “A Invenção de Morel” do argentino Bioy Casares. Para quem não conhece o resumo da estória aí vai: um cientista cria uma máquina capaz de não somente apreender a imagem das pessoas, como também seus sentimentos, sendo capaz de reproduzi-los. Assim, momentos bons podem ser permanentemente revividos, sendo que o custo da exposição contínua à máquina acaba por ser a própria morte. Se me lembro desta obra é porque penso o quanto as pessoas se esforçam por construir rotinas seguras, buscando reviver sempre as mesmas sensações querendo eternizar-se nas repetições, onde as conseqüências, como no romance de Casares, é a própria morte. Não a morte literal, mas aquela morte para o novo, que acaba por significar, em certo sentido, a “morte” do espírito.
Infelizmente para alguns, mas felizmente para os objetivos da existência, “a repetição não gera igualdade”, como colocou o espírito Antônio Grimm (psicofonado pelo médium Maury Rodrigues da Cruz). Para aqueles que querem construir rituais semanais de forma a alcançar as mesmas sensações a crise é inevitável, uma vez que cada momento é único e os desdobramentos são singulares. Mesmo repetindo as mesmas ações e comportamentos os resultados acabam por ser sempre diferenciados, pois o contexto é sempre dinâmico. E se não aproveitamos esta dinâmica da mudança, não só sofremos e nos desapontamos como nos impedimos de melhor nos conhecer e nos expressar face às incertezas e os inesperados do cotidiano.
O oposto também é pernicioso, uma vez que uma rotina mínima garante o cumprimento de tarefas que se renovam e se impõe para nós todos os dias. A geração nascida na década de 80 teve em muitos casos suas necessidades satisfeitas pelos pais, de modo que a única coisa que sobrou foi a rotina do ócio. Como o espírito é sensibilizado para o novo e neste caso este lhe foi usurpado, muitos passaram a correr atrás das novidades, vivendo do efêmero, do fugaz e dos desafios aos limites, transgredindo regras e valores. Daí a banalização da violência na juventude atual, o aumento do consumo das drogas, o apelo sexual, entre outras questões fundamentalmente desconstrutivas.
Neste caso, como na maioria, percebe-se o meio termo como o bom senso. Saber construir uma organização diária de modo a satisfazer as necessidades materiais e existenciais da vida é imprescindível. Assim como estar apto a se renovar todos os dias enfrentando criticamente os novos desafios, recombinando saberes anteriores para construir conhecimentos originais e diferenciados para promover transformações significativas. Novamente citando o espírito Antônio Grimm (psicofonado pelo médium Maury Rodrigues da Cruz): “Os espíritos ensinam, através da Doutrina dos Espíritos, que a casa espírita, na visão curricular construtivista, não poderá sensibilizar os indivíduos à procura da novidade, mas deverá fortalecer curricularmente em cada um o enxergar, o alcançar, em profundidade, a construção do novo”.

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