quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Vida e Dor

Pode parecer curioso, ou até mesmo pessimista, mas o mais difícil da vida é viver. Como não somos árvores, pedras, nossa condição humana demanda tomada de decisões, escolhas e opções feitas mediante o exercício do livre-arbítrio. Evidente que nem todas as nossas transformações são resultado do livre-arbítrio. Ninguém deixa te ter fome, por exemplo, pelo simples exercício de escolha. Mas as decisões que se baseiam em nossa possibilidade de escolher são as que mais acabam nos causando sofrimento. Ou ainda, são aquelas que mais nos causam dor. Uma dor diferente de todas as outras. E com certeza uma dor mais sofrida que todas as outras.
O filósofo alemão Heidegger dizia que a essência do ser humano era a possibilidade de existir. Todas as coisas são, o homem existe. Ou seja, é ele quem acaba por determinar sua própria essência, mediante a existência que escolha fazer pelos comportamentos adotados. Mas, o homem só pode revelar sua essência mais profunda quando seus comportamentos refletem e manifestam esta essência. Quando seus comportamentos indicam na sua materialidade a essência espiritual. Mas quando suas condutas são contraditórias à sua natureza substancial, a dor surge como sinalizadora para transformações. Não que a dor seja arbitrária ou punitiva, mas a dor é um disparador para a felicidade, pois nos sensibiliza, pelo mal estar que causa, a reavermos nossas ações para torná-las mais adequadas ao nosso contexto. E cabe a cada um de nós descobrir qual o melhor comportamento para o presente momento, pois cada um de nós é único, singular e atribui um sentido diferenciado ao contexto circundante. Por isso a vida é tão difícil.
Voltando à reflexão inicial: o mais difícil da vida é viver. Mas como todas as outras coisas, quanto mais difíceis se tornam maior realização proporcionam. Viver é difícil. Mas viver adequadamente é felicidade.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Compartilhar Juntos!

Diversas religiões, concepções filosóficas, escolas cientiíficas e visões ordinárias quaisquer fazem alguma reflexão sobre a origem do mundo e o fato de nós, seres humanos, nele existirmos.
Alguns afirmam que o universo foi criado pronto da forma que o conhecemos, assim como fomos criados prontos os seres humanos segundo um plano divino. Outros afirmam que o universo era desorganizado e caótico até surgirem divindades para ordená-lo, sendo o ser humano também fruto desta organização. Outros, ainda, colocam o surgimento do universo como casual, dentro de uma possibilidade estatística que obedecendo à leis físicas, biológicas e químicas foram produzindo formas de vida cada vez mais complexas, dentro de um mecanismo natural de evolução material da vida, sendo o ser humano fruto deste processo. O ponto de vista espírita afirma que o espírito, princípio inteligente, é quem coordena e estrutura a matéria, sendo responsável por sua transformação mediante seu próprio aprendizado num acúmulo de conhecimento. O ser humano seria uma forma individualizada do espírito, portador do livre-arbítrio, com possibilidade do exercício moral inteligente e da reencarnação para processo cada vez maior de construção de conhecimento.
Embora cada abordagem construa uma visão de mundo explicando questões que atingem a todos nós, há um ponto comum entre todas. Mesmo que uns acreditem na vida após a morte e outros não, todos deveríamos nos encantar de estarmos vivos no período em que estamos vivos e com as pessoas com as quais estamos vivos. Sejamos um acaso da natureza, algo programado ou um espírito em exercício, teríamos uma possibilidade enorme de épocas e lugares para estarmos encarnados. E, se dentro desta vastidão de possibilidades, como no caso espírita de podermos ter reencarnado numa série de épocas, locais e momentos, estamos justamente aqui e agora e dividindo o espaço-tempo com as pessoas que também estão encarnadas aqui e agora, devemos valorizar a oportunidade de termos nos encontrado, valorizar cada encontro e tornar cada vez mais importante nossas amizades e as pessoas com as quais tanto somamos e dividimos ao longo desta nossa trajetória.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Leitura e Espiritismo

A coisa é simples assim: se você se diz espírita e lê somente obras de Kardec ou psicografadas, sinto muito, mas você não é espírita. É fácil identificar pessoas assim quando em tudo que escrevem ou dizem só citam as obras mencionadas. O Espiritismo é ciência, filosofia e religião justamente porque empreende um esforço contínuo para compreender e se adaptar ao continuum do tempo. Tudo está em permanente transformação e o Espiritismo só acompanha este ritmo atualizando sua leitura de mundo fundamentado nas novas abordagens científicas, filosóficas e religiosas.
E não me venham dizer que espírita é aquele que pratica a teoria independente do que leia. Por maior que seja a boa vontade e disciplina da pessoa, se ela for muito obtusa e sem leitura contemporânea de mundo vai se tornar uma pessoa no máximo esforçada e bem intencionada. E como dizem por aí, de boas intenções o inferno está cheio.
Claro que há pessoas simples e de uma sabedoria enorme. Mas o processo reencarnatório elucida como conseguiram atingir a massa crítica que alcançaram e demonstra qual a função dessa pessoa no local em que está encarnado. Ademais se você não é muito sábio , nem simples, e se diz espírita, trate de ler e ler de tudo, ou acabará sendo, no máximo, uma tentativa de espírita bem intencionado.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Suicídio e Espiritismo

Existem poucas pesquisas e obras acerca do suicídio. Tanto é que até hoje quando buscam se referir a ele ainda recorrem a obra de Durkheim ("O Suicídio"). Embora defasada e já datada esta obra apresenta alguns pontos ainda relevantes, como o fato de demonstrar mediante dados de pesquisa que o suicídio não decorre simplesmente de um ato puramente subjetivo, mas que também apresenta variáveis objetivas e sociais para sua efetivação. Durkheim demonstrou que em épocas de anomia social há um número maior de suicídios, buscando demonstrar que quando há falta de coesão social, com regras e condutas claras para os comportamentos, existe um processo de crise mais elevado nos indivíduos. Observando estas teses sob o olhar da complexidade levantam-se uma série maior de variáveis mas, infelizmente, o suicídio pouco foi estudado no século XX.
As obras espíritas costumam abordar insistentemente o tema do suicídio, o que gera uma contradição: se o Espiritismo se apoia na ciência e a ciência pouco estudou o suicídio, qual a autoridade dos espíritas em falar sobre ele? Nenhuma. Este é o grande problema. Os espíritas fazem alguns recortes descontextualizados de alguns trechos da obra de Kardec, se apoiam em pseudo-romances e saem por aí criticando e condenando veementemente o suicída.
O suicídio é errado? Evidente que sim! Negar uma oportunidade de crescimento e aprendizado, simplesmente desisitindo de tudo é um erro. Mas buscar combatê-lo criando o medo das suas consequências é mais cruel ainda (qualquer analogia do chamado "Vale dos Suicídas" com o inferno não é mera coincidência). Fustigar alguém que já sofre muito com táticas terroristas é um crime talvez maior que o próprio suicídio. Todos tem impresso em si o desejo pela vida, de forma que muitos suicídas em potencial falham nas suas tentativas de morrer. O que leva a pensar que para uma pessoa consumar este ato, deve estar sofrendo muito. E se há também causas sociais que concorrem para o suicídio é responsabilidade de todos a sua diminuição. E é também responsabilidade do Espiritismo, não criando obras caricatas e assustadoras, mas criando textos que enalteçam a vida, sua plenitude e forneça recursos para que cada indivíduo consiga superar suas dificuldades.
Imagine uma mãe que já perdeu um filho por suicídio ainda ter de ler um livro supostamente espírita narrando todas as agruras pela qual ele deve passar. Isso não é humano. A proposta espírita é resignificar o sentido de vida das pessoas, demonstrando através de um discurso coerente a importância de estarmos encarnados, além da importância da dor para o nosso próprio crescimento.