Embora as relações mediúnicas sejam comuns desde os tempos mais remotos e interpretadas das mais variadas maneiras por diferente culturas e a Doutrina Espírita venha sendo materializada e objetivada na Terra desde seu primeiro habitante auto-consciente, só se pode falar em Espiritismo a partir de Allan Kardec. Não só pelo fato do mesmo ter criado a palavra e desenvolvido o conceito, mas pelo risco que se corre em atribuir o rótulo de Espiritismo para ideologias, crenças ou manifestações culturais anteriores.
Dos vários méritos de Kardec, talvez dois sejam especiais para a história do pensamento da humanidade: o primeiro, em demonstrar que as relações entre os polissistemas espiritual e material, antes entendidas como relações com o divino, o sagrado, o oculto, etc., são passíveis de análise crítica e inteligíveis mediante a relação harmônica de ciência, filosofia e religião; o segundo, decorrência lógica e direta do primeiro, é de que a fé deve estar sustentada numa base racional. Com isso demonstrou ineficaz várias das liturgias anteriores e dos cerimoniais baseados em mitos, lendas e mistificações.
Kardec tornou possível estas conclusões utilizando-se de um método científico para colher mensagens mediúnicas do mundo todo, fazendo controle e reconhecendo um núcleo central, promovendo assim, a codificação da Doutrina Espírita mediante o esforço do Espiritismo. Também colocou para as gerações posteriores que o trabalho da codificação é dinâmico, em face dos novos alcances nos segmentos da ciência, filosofia e religião e da construção dos novos contextos culturais. O Espiritismo possui um núcleo, composto pelos princípios de Deus, Jesus e moral cristã, reencarnação, livre arbítrio e comunicação entre os polissistemas, que deve ser permanentemente reinterpretado face aos novos acontecimentos. E estas interpretações devem estar baseadas em todo conhecimento alcançado pela humanidade, numa avaliação crítica e criteriosa. Por isso o Espiritismo não é de forma alguma dogmático, esotérico, místico ou ocultista, estando ao alcance de todos, sendo dever de cada um combinar e recombinar a estrutura espírita sabendo interpretar os fatos concretos cotidianos a partir deles num exercício hermenêutico. Isso não significa que cada um deve fazer a avaliação que quiser descompromissada com qualquer justificativa, mas deve reconhecer o discurso espírita, suas bases lógicas e codifica-los para o momento presente.
A cultura brasileira, aquela que mais objetivamente ergueu a bandeira do Espiritismo, parece ainda ignorar profundamente as teses de Kardec. Motivo pelo qual continuam interpretando os fatos novos através de idéias ultrapassadas e datadas, estagnando novos conhecimentos e deturpando as idéias espíritas. Isto fica evidente em várias das publicações espíritas que circulam pelo país, demonstrando desconhecimento da filosofia espírita, agindo ainda mediante uma cultura católica e criando uma representação falsa do que significa o Espiritismo. Uma vez que ele possui uma base, muita bem justificada e argumentada, é necessário se deter sobre ela para interpretar o mundo e compor novos conhecimentos, promovendo a permanente codificação da mensagem espírita.
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008
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2 comentários:
"Kardec tornou possível estas conclusões utilizando-se de um método científico para colher mensagens mediúnicas do mundo todo, fazendo controle e reconhecendo um núcleo central, promovendo assim, a codificação da Doutrina Espírita mediante o esforço do Espiritismo."
Caro Guilherme,
Método científico? Poderia escrever um artigo explicando o suposto método?
Um abraço cordial.
No próximo artigo mencionarei mais detalhadamente o método científico de Kardec.
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