Toda concepção religiosa espiritualista visa expressar uma lógica espiritual de comportamento contrária à lógica materialista. Daí o grande sentido da afirmação de Cristo: “Não se pode servir a Deus e a Mamon”. Cada uma dessas concepções difere na forma através da qual manifestam seus entendimentos e na forma de transmiti-los. No Espiritismo esta lógica espiritual não é transmitida por revelação a pessoas diferenciadas e tampouco transmitida através de dogmas ou saberes sagrados. Ao contrário, está ao alcance de cada um, sendo construída pelo conhecimento na reunião de ciência, filosofia e religião.
Cada indivíduo é apto para ler o seu contexto e mediante o conhecimento que acumulou derivar o melhor comportamento para a situação dada. A grande questão é que muitas vezes o conhecimento alcançado por certo indivíduo pode ser contrário aos seus desejos e expectativas biológicas e sociais. Neste sentido é que o amor emerge como poder iluminador que promove uma renúncia voluntária, proporcionando que o indivíduo renuncie aos interesses materiais em favor dos princípios que alcançou pelo conhecimento. Caso não aprenda pelo amor irá aprender pela dor. Como exemplo, vejamos uma pessoa que alcançou a importância de manter-se encarnado o máximo de tempo possível a fim de melhor aproveitar seu aprendizado. Mantém hábitos saudáveis renunciando alguns alimentos no objetivo de permanecer mais tempo encarnado qualitativamente e quantitativamente. Essa é uma conduta de amor, pois a pessoa renunciou voluntariamente certas coisas em prol daquelas que considerava como corretas. Já o indivíduo que cede a quaisquer desejos corre o risco de ter de abandonar hábitos pela dor. Como é o caso daquele que se alimenta de maneira inadequada e só nos primeiros sinais de doença abandona esta conduta. O aprendizado foi pela dor, por coerção e não pela efetivação do conhecimento.
Se o amor é saber renunciar é necessário também que se saiba como, o que e qual a ocasião de renunciar. A renúncia deve ser sempre argumentada e justificada de forma crítica e racional. Um bom critério é, diante de cada situação, avaliar a ação a ser tomada mediante as intenções, os meios e os fins. Adequando harmonicamente os três se pode derivar uma boa conduta. Por isso é imprescindível tratar do amor na sua relação fundamental com o conhecimento.
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
Fé Racional
São comuns a contraposição e a divergência entre fé e ciência, sendo que um olhar mais detido e apurado pode não somente encontrar pontos comuns entre ambos, como reconhecer seu caráter de complementaridade e mesmo de indissociabilidade. Um pouco da evolução do conhecimento científico pode ajudar a compreender a necessidade desta evolução no âmbito da fé.
Quando passou a sedimentar-se como visão de mundo bastante eficaz, a ciência se baseava fundamentalmente em observações, onde cabia ao pesquisador tornar-se o mais imparcial quanto possível, servindo tão somente como registrador dos fenômenos observados. Destes registros surgia uma interpretação posterior baseada em linguagem técnica e, por vezes, matemática. Já em meados do século XIX passaram a surgir publicações interessadas nos mecanismos de funcionamento da ciência, bem como os primeiros cursos institucionalizados de epistemologia. Com isso, mudou-se um pouco a visão imperante sobre o método científico e começou a se criar uma nova abordagem. Nesta, o cientista não faria simplesmente observações, mas as faria ancoradas em hipóteses elaboradas anteriormente. Assim, a observação seria um recorte a partir das hipóteses do cientista, buscando evidências para comprová-la ou refutá-la. As hipóteses iriam direcionando o caminho da pesquisa, sendo reelaboradas conforme a necessidade das conclusões encontradas. Já no século XX ocorre nova transformação no pensamento científico, onde as grandes descobertas deixam de ser provocadas na observação do mundo dos fenômenos e passam a emergir da meditação sobre aspectos racionais de teorias anteriores. Há uma inversão da prioridade do realismo enfatizando-se o racionalismo, onde grandes teorias surgem pelo exercício da abstração e da imaginação e menos por questões concretas e observáveis. Não que a análise do mundo exterior em si não tenha importância alguma, mas ele vai servir para provocação e estimulação de questões abstratas, cuja consistência lógica vai buscar submeter seus resultados aos objetos do real, inovando-os e alçando-lhes aspectos antes inacessíveis. Portanto, as hipóteses vão surgir como sínteses e não mais como elaborações desconexas. Como exemplo, temos Einstein questionando o princípio da simultaneidade do tempo newtoniano e alguns matemáticos questionando o postulado das paralelas na geometria euclidiana, cujas descobertas proporcionaram feedback no mundo do real e os renovaram, permitindo enxergar pontos antes obscuros à simples observação.
De acordo com esta abordagem inicial pode-se fazer um paralelo com a fé. Se esta não fosse congelada por uma visão dogmática, centrada em dogmas e revelações seguiria o mesmo caminho da ciência, uma vez que ambas possuem uma inter-relação fundamental que será comentada adiante. Inicialmente a fé surgiu, ou assim se imagina que tenha surgido, por observações concretas de alguns fenômenos. Ela derivava da observação direta. Posteriormente, aquele que mantinha fé fazia hipóteses sobre o mundo, cujos eventos poderiam ou não comprovar sua fé, transformando-a e obrigando-a a se renovar. Atualmente, seria o tempo da fé se deter em questões lógico-abstratas que poderiam elucidar questões do real ainda não possíveis de serem esclarecidas através de evidências, mas bastante plausíveis pelo rigor filosófico. Partindo deste princípio não se deixa de perceber uma nítida coincidência entre as trajetórias da fé e da ciência. De onde surge este acontecimento? Do simples motivo da fé consubstanciar a atividade científica, onde é uma transformação da fé que possibilita uma transformação da ciência. A grande dificuldade surge quando se fala em fé religiosa e se tenta atribuir a ela caracteres distintivos da fé científica. E esta questão sedimentou-se num senso comum que se imiscuiu mesmo nas mentes mais privilegiadas. Como exemplo, citemos novamente Einstein. Mesmo um cientista de tamanha envergadura e com ideais tão nobres ainda era capaz de fazer concessões à idéia de tradição.
Sendo o núcleo científico filosófico ele se sustenta em uma fé. Basicamente na fé de que há uma ordem no Universo e de que o entendimento humano é capaz de compreendê-la. Porém, graças ao sucesso do método científico e a comprovação das hipóteses através de evidências concretas deixou-se de refletir as premissas científicas organizadas pela fé. E esta reflexão passou despercebida, pelo menos pela grande maioria, quando Einstein enunciou a Teoria da Relatividade que a rigor não possuía evidência nenhuma a não ser a consistência lógica de seus postulados. Inicialmente sua aceitação, para aqueles que tivessem essa coragem, era simplesmente uma posição de fé. Mas uma fé sustentada pela razão. A fé religiosa funciona da mesma maneira. Quando nos primórdios da humanidade se observavam fenômenos climáticos e a eles se atribuíam divindades começava a surgir uma concepção de mundo ordenada. Houve dinâmica da fé e as concepções religiosas foram se alterando. A grande crise foi quando surgiram igrejas buscando o monopólio da explicação religiosa, congelando a fé em dogmas e submetendo-as às massas através de aceitação passiva. Criou-se a idéia de que surgiam na humanidade figuras extraordinárias que traziam conhecimentos sagrados por via da revelação e que não podiam ser questionados, mas aceitos por ato de “fé” e transmitidos sob a forma de tradição. Esta mentalidade instaurou-se tão fortemente que atualmente cientistas que conduzem suas pesquisas com rigor metodológico, são altamente críticos na discussão de seus resultados, mas quando abordam questões religiosas sucumbem a dogmas e aceitações acríticas, ignorando que sendo a fé que ampara ambas as atividades, a postura crítica, reflexiva e racional diante delas deveria ser a mesma.
Desta percepção é possível avaliar uma das grandes conquistas do Espiritismo e um dos seus pontos originais: a fé racional. A rigor a fé é por excelência racional, uma vez que é a possibilidade de estender o olhar para pontos obscuros a partir de conhecimentos já consolidados. O que Kardec fez com bastante competência foi ressaltar esta posição com argumentações lógicas. Foi revolucionário ao propor que sendo o polissistema espiritual passível de verificação racional e análise crítica dentro de um quadro de leis naturais e não extraordinárias, a fé resultante deveria ser racional. Toda crença poderia e deveria ser justificada, estando aberta a crítica, ao diálogo e a influência de novas descobertas. Viveu no tempo em que começavam a formular hipóteses para as observações, fazendo o mesmo. Colhendo mensagens mediúnicas ao redor do mundo todo descartava ou reforçava suas hipóteses, procedendo de forma rigorosamente científica. Mas já começava a precipitar uma nova epistemologia quando enfatizou questões contrárias ao senso comum que ainda não poderiam ser provadas por evidências, mas sim com a argumentação crítico-racional. Daí explicitou que a fé só poderia existir se oportunizasse menor resistência do real, portanto construída sob a égide da razão e da crítica. Contemporaneamente, este ponto é fundamental para o Espiritismo. Assim como Einstein na gênese de suas teorias não encontrava evidências concretas para comprová-las servindo-se apenas do suporte da consistência lógica, o Espiritismo ainda não encontra instrumentos adequados para comprovar imortalidade da alma, reencarnação, mediunidade e outros pontos. Mas centrando-se criticamente em pontos morais e naturais da existência, desdobra conteúdos lógicos que possibilitam a crença racional nessas teses, além da possibilidade de enxergar pontos antes invisíveis ao olhar comum.
Concluindo, se quer colocar que não há uma grande diferença entre fé e ciência, onde a primeira estrutura a segunda. E por este princípio não deveria haver diferença ente fé científica e fé religiosa, não podendo se atribuir características específicas para cada uma delas, uma vez que a idéia de fé tem uma essência que não se modifica conforme a atividade que sustenta. A grande confusão surge pelo senso comum de fé, transmitida basicamente por algumas igrejas e distribuídas por todos os segmentos da sociedade. O Espiritismo objetiva trabalhar criticamente o conceito de fé, para romper com a crença comum de sua aceitação passível e originada na idéia de revelação, promovendo a auto-emancipação do homem pelo conhecimento, onde cada um possa defender aquilo que acredita em princípios lógico-racionais, aberto a mudanças por constatação de eventos ou pelo diálogo construtivo.
Quando passou a sedimentar-se como visão de mundo bastante eficaz, a ciência se baseava fundamentalmente em observações, onde cabia ao pesquisador tornar-se o mais imparcial quanto possível, servindo tão somente como registrador dos fenômenos observados. Destes registros surgia uma interpretação posterior baseada em linguagem técnica e, por vezes, matemática. Já em meados do século XIX passaram a surgir publicações interessadas nos mecanismos de funcionamento da ciência, bem como os primeiros cursos institucionalizados de epistemologia. Com isso, mudou-se um pouco a visão imperante sobre o método científico e começou a se criar uma nova abordagem. Nesta, o cientista não faria simplesmente observações, mas as faria ancoradas em hipóteses elaboradas anteriormente. Assim, a observação seria um recorte a partir das hipóteses do cientista, buscando evidências para comprová-la ou refutá-la. As hipóteses iriam direcionando o caminho da pesquisa, sendo reelaboradas conforme a necessidade das conclusões encontradas. Já no século XX ocorre nova transformação no pensamento científico, onde as grandes descobertas deixam de ser provocadas na observação do mundo dos fenômenos e passam a emergir da meditação sobre aspectos racionais de teorias anteriores. Há uma inversão da prioridade do realismo enfatizando-se o racionalismo, onde grandes teorias surgem pelo exercício da abstração e da imaginação e menos por questões concretas e observáveis. Não que a análise do mundo exterior em si não tenha importância alguma, mas ele vai servir para provocação e estimulação de questões abstratas, cuja consistência lógica vai buscar submeter seus resultados aos objetos do real, inovando-os e alçando-lhes aspectos antes inacessíveis. Portanto, as hipóteses vão surgir como sínteses e não mais como elaborações desconexas. Como exemplo, temos Einstein questionando o princípio da simultaneidade do tempo newtoniano e alguns matemáticos questionando o postulado das paralelas na geometria euclidiana, cujas descobertas proporcionaram feedback no mundo do real e os renovaram, permitindo enxergar pontos antes obscuros à simples observação.
De acordo com esta abordagem inicial pode-se fazer um paralelo com a fé. Se esta não fosse congelada por uma visão dogmática, centrada em dogmas e revelações seguiria o mesmo caminho da ciência, uma vez que ambas possuem uma inter-relação fundamental que será comentada adiante. Inicialmente a fé surgiu, ou assim se imagina que tenha surgido, por observações concretas de alguns fenômenos. Ela derivava da observação direta. Posteriormente, aquele que mantinha fé fazia hipóteses sobre o mundo, cujos eventos poderiam ou não comprovar sua fé, transformando-a e obrigando-a a se renovar. Atualmente, seria o tempo da fé se deter em questões lógico-abstratas que poderiam elucidar questões do real ainda não possíveis de serem esclarecidas através de evidências, mas bastante plausíveis pelo rigor filosófico. Partindo deste princípio não se deixa de perceber uma nítida coincidência entre as trajetórias da fé e da ciência. De onde surge este acontecimento? Do simples motivo da fé consubstanciar a atividade científica, onde é uma transformação da fé que possibilita uma transformação da ciência. A grande dificuldade surge quando se fala em fé religiosa e se tenta atribuir a ela caracteres distintivos da fé científica. E esta questão sedimentou-se num senso comum que se imiscuiu mesmo nas mentes mais privilegiadas. Como exemplo, citemos novamente Einstein. Mesmo um cientista de tamanha envergadura e com ideais tão nobres ainda era capaz de fazer concessões à idéia de tradição.
Sendo o núcleo científico filosófico ele se sustenta em uma fé. Basicamente na fé de que há uma ordem no Universo e de que o entendimento humano é capaz de compreendê-la. Porém, graças ao sucesso do método científico e a comprovação das hipóteses através de evidências concretas deixou-se de refletir as premissas científicas organizadas pela fé. E esta reflexão passou despercebida, pelo menos pela grande maioria, quando Einstein enunciou a Teoria da Relatividade que a rigor não possuía evidência nenhuma a não ser a consistência lógica de seus postulados. Inicialmente sua aceitação, para aqueles que tivessem essa coragem, era simplesmente uma posição de fé. Mas uma fé sustentada pela razão. A fé religiosa funciona da mesma maneira. Quando nos primórdios da humanidade se observavam fenômenos climáticos e a eles se atribuíam divindades começava a surgir uma concepção de mundo ordenada. Houve dinâmica da fé e as concepções religiosas foram se alterando. A grande crise foi quando surgiram igrejas buscando o monopólio da explicação religiosa, congelando a fé em dogmas e submetendo-as às massas através de aceitação passiva. Criou-se a idéia de que surgiam na humanidade figuras extraordinárias que traziam conhecimentos sagrados por via da revelação e que não podiam ser questionados, mas aceitos por ato de “fé” e transmitidos sob a forma de tradição. Esta mentalidade instaurou-se tão fortemente que atualmente cientistas que conduzem suas pesquisas com rigor metodológico, são altamente críticos na discussão de seus resultados, mas quando abordam questões religiosas sucumbem a dogmas e aceitações acríticas, ignorando que sendo a fé que ampara ambas as atividades, a postura crítica, reflexiva e racional diante delas deveria ser a mesma.
Desta percepção é possível avaliar uma das grandes conquistas do Espiritismo e um dos seus pontos originais: a fé racional. A rigor a fé é por excelência racional, uma vez que é a possibilidade de estender o olhar para pontos obscuros a partir de conhecimentos já consolidados. O que Kardec fez com bastante competência foi ressaltar esta posição com argumentações lógicas. Foi revolucionário ao propor que sendo o polissistema espiritual passível de verificação racional e análise crítica dentro de um quadro de leis naturais e não extraordinárias, a fé resultante deveria ser racional. Toda crença poderia e deveria ser justificada, estando aberta a crítica, ao diálogo e a influência de novas descobertas. Viveu no tempo em que começavam a formular hipóteses para as observações, fazendo o mesmo. Colhendo mensagens mediúnicas ao redor do mundo todo descartava ou reforçava suas hipóteses, procedendo de forma rigorosamente científica. Mas já começava a precipitar uma nova epistemologia quando enfatizou questões contrárias ao senso comum que ainda não poderiam ser provadas por evidências, mas sim com a argumentação crítico-racional. Daí explicitou que a fé só poderia existir se oportunizasse menor resistência do real, portanto construída sob a égide da razão e da crítica. Contemporaneamente, este ponto é fundamental para o Espiritismo. Assim como Einstein na gênese de suas teorias não encontrava evidências concretas para comprová-las servindo-se apenas do suporte da consistência lógica, o Espiritismo ainda não encontra instrumentos adequados para comprovar imortalidade da alma, reencarnação, mediunidade e outros pontos. Mas centrando-se criticamente em pontos morais e naturais da existência, desdobra conteúdos lógicos que possibilitam a crença racional nessas teses, além da possibilidade de enxergar pontos antes invisíveis ao olhar comum.
Concluindo, se quer colocar que não há uma grande diferença entre fé e ciência, onde a primeira estrutura a segunda. E por este princípio não deveria haver diferença ente fé científica e fé religiosa, não podendo se atribuir características específicas para cada uma delas, uma vez que a idéia de fé tem uma essência que não se modifica conforme a atividade que sustenta. A grande confusão surge pelo senso comum de fé, transmitida basicamente por algumas igrejas e distribuídas por todos os segmentos da sociedade. O Espiritismo objetiva trabalhar criticamente o conceito de fé, para romper com a crença comum de sua aceitação passível e originada na idéia de revelação, promovendo a auto-emancipação do homem pelo conhecimento, onde cada um possa defender aquilo que acredita em princípios lógico-racionais, aberto a mudanças por constatação de eventos ou pelo diálogo construtivo.
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
Construção do Caráter
Sempre que nos deparamos, um pouco admirados e perplexos, com a trajetória de pessoas que souberam efetivar nas suas existências conhecimento, bondade e amor, nos questionamos os motivos pelos quais estes atingiram esta condição. E lendo a história de vida destas pessoas impressiona que desde cedo soubessem muito bem o que queriam e o modo consciente e responsável para a conquista dos objetivos. Diante disso queremos nos transformar a nós mesmos, buscando fazer dos eventos banais do cotidiano grandes acontecimentos e demonstração de grandes saberes, tais quais aqueles a quem admiramos. Assim, gostaríamos de saber dizer sempre a coisa certa na hora certa, como Jesus. Ou manter a convicção moral de Gandhi. Ou a humildade e dedicação de Einstein. Mas despreparados que ainda somos, ao falhar pela primeira vez jogamos tudo para o alto, justificando nosso fracasso com uma ideologia qualquer.
A grande questão é compreender que devemos aprender a viver os detalhes e o momento presente, querendo nos guardar de querer construir a toda hora grandes momentos.
Esses há quem admiramos construíram todo saber numa trajetória reencarnatória pela qual vieram agregando lentamente conhecimentos, os reforçando pela disciplina e compondo momento a momento seu caráter. Devido ao seu preparo, em certas situações, assumem missões nas quais podem revelar e expressar toda uma experiência que foi sendo sedimentada paulatinamente nos detalhes, proporcionando então os grandes feitos.
Dostoiévski disse, através de um de seus personagens em “Irmãos Karamazov”, que um homem num impulso de amor pela humanidade poderia deixar se sacrificar na cruz, mas quem sabe talvez não conseguisse viver harmonicamente uma semana com um estranho sob o mesmo teto. Devemos construir nosso caráter dia a dia, nas pequenas coisas, nos pequenos detalhes. Quem sabe cumprimentando as pessoas ao nosso redor, ou talvez não se irritando no trânsito, ou ainda exercendo nossos ofícios com dedicação e responsabilidade. O fato é que somente no aprendizado cotidiano e mediante o processo reencarnatório poderemos estar aptos para os grandes feitos, os grandes acontecimentos, nunca esquecendo que a beleza de um quadro também reside nos seus detalhes.
A grande questão é compreender que devemos aprender a viver os detalhes e o momento presente, querendo nos guardar de querer construir a toda hora grandes momentos.
Esses há quem admiramos construíram todo saber numa trajetória reencarnatória pela qual vieram agregando lentamente conhecimentos, os reforçando pela disciplina e compondo momento a momento seu caráter. Devido ao seu preparo, em certas situações, assumem missões nas quais podem revelar e expressar toda uma experiência que foi sendo sedimentada paulatinamente nos detalhes, proporcionando então os grandes feitos.
Dostoiévski disse, através de um de seus personagens em “Irmãos Karamazov”, que um homem num impulso de amor pela humanidade poderia deixar se sacrificar na cruz, mas quem sabe talvez não conseguisse viver harmonicamente uma semana com um estranho sob o mesmo teto. Devemos construir nosso caráter dia a dia, nas pequenas coisas, nos pequenos detalhes. Quem sabe cumprimentando as pessoas ao nosso redor, ou talvez não se irritando no trânsito, ou ainda exercendo nossos ofícios com dedicação e responsabilidade. O fato é que somente no aprendizado cotidiano e mediante o processo reencarnatório poderemos estar aptos para os grandes feitos, os grandes acontecimentos, nunca esquecendo que a beleza de um quadro também reside nos seus detalhes.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008
Método Científico de Kardec
Para que se possa compreender o método científico que Kardec utilizou para realizar a codificação espírita é necessário primeiramente entender a concepção epistemológica que emergiu no século XIX e proporcionou diversas descobertas nas mais variadas áreas. Se Bachelard afirma que o novo pensamento científico no início do século XX se caracterizou por uma prioridade do racionalismo frente ao chamado realismo, o século XIX deu ênfase para o empirismo, construindo novas teorias através de experimentações, verificações e observações. Charles Darwin foi um dos expoentes deste método que também promovia inovações. Durante muito tempo as pesquisas científicas se limitavam simplesmente a observar, onde o cientista era treinado para colher dados e transcreve-los cuidando ao máximo para não interferir ou deles tirar conclusões precipitadas. Já na metade do século XIX, com o surgimento de obras voltadas especificamente para a epistemologia, o método se alterou: o pesquisador formulava a partir de suas observações hipóteses para posteriormente serem comprovadas ou descartadas mediante as evidências, sendo que no caso de serem refutadas novas hipóteses eram formuladas. Darwin, segundo consta dos revisores contemporâneos de sua obra, era exímio nesta arte de incansavelmente formular e reformular hipóteses submetendo-as aos experimentos e observações.
Kardec que fazia parte da construção desta nova mentalidade e possuía uma excelente educação formal, também se serviu deste método para elaborar a codificação espírita. O próprio exemplifica claramente isso na introdução do “Evangelho Segundo o Espiritismo”, ressaltando passo a passo como fazia para introduzir um novo conceito e construir o edifício do Espiritismo. Primeiramente ele colhia e analisava mensagens do seu entorno, oriundas dos médiuns com os quais trabalhava mais frequentemente. Quando aparecia uma nova idéia, ele avaliava se ela era logicamente consistente. Posteriormente ele combinava com todo arcabouço espírita já alcançado para perceber se havia coerência. Se a idéia passasse por estes critérios era formulada uma nova hipótese, que dependeria de observações para ser descartada ou corroborada. As observações ocorriam da seguinte forma: Kardec publicava a mensagem na Revista Espírita e aguardava respostas de várias partes do mundo com mensagens espírita versando sobre o mesmo assunto para perceber se havia ou não uma universalidade no conteúdo. Era um trabalho meticuloso de análise, para garantir que cada novo conceito houvesse passado por um critério rigoroso de verificação, tal qual os experimentos científicos da época. Quando uma mensagem alcançava este valor de universalidade, Kardec aguardava o momento adequado para lançar o novo conceito.
Além disso, Kardec ainda mantinha todo um modo pedagógico de construir suas obras, revelando uma sintaxe por detrás dos processos morais. Não vou me estender nesse assunto, mas indico a excelente obra “Sintaxe dos Processos Morais - Um estudo sobre a estrutura do código moral na Codificação da Doutrina Espírita” de César Graça (este livro foi recentemente lançado pela Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas em Curitiba. Quem tivesse interesse em adquiri-lo e dificuldade em achá-lo poderia me contatar que eu facilitaria a transação).
*****************************************************
P.S.: Como abordei um pouco sobre ciência hoje, recomendo o recém-inaugurado blog www.rui-paz.blogspot.com que, entre outras coisas, trata da ciência na contemporaneidade, sobre transdisciplinaridade, eslética, complexidade e assuntos afins.
Kardec que fazia parte da construção desta nova mentalidade e possuía uma excelente educação formal, também se serviu deste método para elaborar a codificação espírita. O próprio exemplifica claramente isso na introdução do “Evangelho Segundo o Espiritismo”, ressaltando passo a passo como fazia para introduzir um novo conceito e construir o edifício do Espiritismo. Primeiramente ele colhia e analisava mensagens do seu entorno, oriundas dos médiuns com os quais trabalhava mais frequentemente. Quando aparecia uma nova idéia, ele avaliava se ela era logicamente consistente. Posteriormente ele combinava com todo arcabouço espírita já alcançado para perceber se havia coerência. Se a idéia passasse por estes critérios era formulada uma nova hipótese, que dependeria de observações para ser descartada ou corroborada. As observações ocorriam da seguinte forma: Kardec publicava a mensagem na Revista Espírita e aguardava respostas de várias partes do mundo com mensagens espírita versando sobre o mesmo assunto para perceber se havia ou não uma universalidade no conteúdo. Era um trabalho meticuloso de análise, para garantir que cada novo conceito houvesse passado por um critério rigoroso de verificação, tal qual os experimentos científicos da época. Quando uma mensagem alcançava este valor de universalidade, Kardec aguardava o momento adequado para lançar o novo conceito.
Além disso, Kardec ainda mantinha todo um modo pedagógico de construir suas obras, revelando uma sintaxe por detrás dos processos morais. Não vou me estender nesse assunto, mas indico a excelente obra “Sintaxe dos Processos Morais - Um estudo sobre a estrutura do código moral na Codificação da Doutrina Espírita” de César Graça (este livro foi recentemente lançado pela Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas em Curitiba. Quem tivesse interesse em adquiri-lo e dificuldade em achá-lo poderia me contatar que eu facilitaria a transação).
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P.S.: Como abordei um pouco sobre ciência hoje, recomendo o recém-inaugurado blog www.rui-paz.blogspot.com que, entre outras coisas, trata da ciência na contemporaneidade, sobre transdisciplinaridade, eslética, complexidade e assuntos afins.
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008
Atualização Espírita
Embora as relações mediúnicas sejam comuns desde os tempos mais remotos e interpretadas das mais variadas maneiras por diferente culturas e a Doutrina Espírita venha sendo materializada e objetivada na Terra desde seu primeiro habitante auto-consciente, só se pode falar em Espiritismo a partir de Allan Kardec. Não só pelo fato do mesmo ter criado a palavra e desenvolvido o conceito, mas pelo risco que se corre em atribuir o rótulo de Espiritismo para ideologias, crenças ou manifestações culturais anteriores.
Dos vários méritos de Kardec, talvez dois sejam especiais para a história do pensamento da humanidade: o primeiro, em demonstrar que as relações entre os polissistemas espiritual e material, antes entendidas como relações com o divino, o sagrado, o oculto, etc., são passíveis de análise crítica e inteligíveis mediante a relação harmônica de ciência, filosofia e religião; o segundo, decorrência lógica e direta do primeiro, é de que a fé deve estar sustentada numa base racional. Com isso demonstrou ineficaz várias das liturgias anteriores e dos cerimoniais baseados em mitos, lendas e mistificações.
Kardec tornou possível estas conclusões utilizando-se de um método científico para colher mensagens mediúnicas do mundo todo, fazendo controle e reconhecendo um núcleo central, promovendo assim, a codificação da Doutrina Espírita mediante o esforço do Espiritismo. Também colocou para as gerações posteriores que o trabalho da codificação é dinâmico, em face dos novos alcances nos segmentos da ciência, filosofia e religião e da construção dos novos contextos culturais. O Espiritismo possui um núcleo, composto pelos princípios de Deus, Jesus e moral cristã, reencarnação, livre arbítrio e comunicação entre os polissistemas, que deve ser permanentemente reinterpretado face aos novos acontecimentos. E estas interpretações devem estar baseadas em todo conhecimento alcançado pela humanidade, numa avaliação crítica e criteriosa. Por isso o Espiritismo não é de forma alguma dogmático, esotérico, místico ou ocultista, estando ao alcance de todos, sendo dever de cada um combinar e recombinar a estrutura espírita sabendo interpretar os fatos concretos cotidianos a partir deles num exercício hermenêutico. Isso não significa que cada um deve fazer a avaliação que quiser descompromissada com qualquer justificativa, mas deve reconhecer o discurso espírita, suas bases lógicas e codifica-los para o momento presente.
A cultura brasileira, aquela que mais objetivamente ergueu a bandeira do Espiritismo, parece ainda ignorar profundamente as teses de Kardec. Motivo pelo qual continuam interpretando os fatos novos através de idéias ultrapassadas e datadas, estagnando novos conhecimentos e deturpando as idéias espíritas. Isto fica evidente em várias das publicações espíritas que circulam pelo país, demonstrando desconhecimento da filosofia espírita, agindo ainda mediante uma cultura católica e criando uma representação falsa do que significa o Espiritismo. Uma vez que ele possui uma base, muita bem justificada e argumentada, é necessário se deter sobre ela para interpretar o mundo e compor novos conhecimentos, promovendo a permanente codificação da mensagem espírita.
Dos vários méritos de Kardec, talvez dois sejam especiais para a história do pensamento da humanidade: o primeiro, em demonstrar que as relações entre os polissistemas espiritual e material, antes entendidas como relações com o divino, o sagrado, o oculto, etc., são passíveis de análise crítica e inteligíveis mediante a relação harmônica de ciência, filosofia e religião; o segundo, decorrência lógica e direta do primeiro, é de que a fé deve estar sustentada numa base racional. Com isso demonstrou ineficaz várias das liturgias anteriores e dos cerimoniais baseados em mitos, lendas e mistificações.
Kardec tornou possível estas conclusões utilizando-se de um método científico para colher mensagens mediúnicas do mundo todo, fazendo controle e reconhecendo um núcleo central, promovendo assim, a codificação da Doutrina Espírita mediante o esforço do Espiritismo. Também colocou para as gerações posteriores que o trabalho da codificação é dinâmico, em face dos novos alcances nos segmentos da ciência, filosofia e religião e da construção dos novos contextos culturais. O Espiritismo possui um núcleo, composto pelos princípios de Deus, Jesus e moral cristã, reencarnação, livre arbítrio e comunicação entre os polissistemas, que deve ser permanentemente reinterpretado face aos novos acontecimentos. E estas interpretações devem estar baseadas em todo conhecimento alcançado pela humanidade, numa avaliação crítica e criteriosa. Por isso o Espiritismo não é de forma alguma dogmático, esotérico, místico ou ocultista, estando ao alcance de todos, sendo dever de cada um combinar e recombinar a estrutura espírita sabendo interpretar os fatos concretos cotidianos a partir deles num exercício hermenêutico. Isso não significa que cada um deve fazer a avaliação que quiser descompromissada com qualquer justificativa, mas deve reconhecer o discurso espírita, suas bases lógicas e codifica-los para o momento presente.
A cultura brasileira, aquela que mais objetivamente ergueu a bandeira do Espiritismo, parece ainda ignorar profundamente as teses de Kardec. Motivo pelo qual continuam interpretando os fatos novos através de idéias ultrapassadas e datadas, estagnando novos conhecimentos e deturpando as idéias espíritas. Isto fica evidente em várias das publicações espíritas que circulam pelo país, demonstrando desconhecimento da filosofia espírita, agindo ainda mediante uma cultura católica e criando uma representação falsa do que significa o Espiritismo. Uma vez que ele possui uma base, muita bem justificada e argumentada, é necessário se deter sobre ela para interpretar o mundo e compor novos conhecimentos, promovendo a permanente codificação da mensagem espírita.
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